sexta-feira, 9 de julho de 2010

— Certa vez houve uma inundação numa imensa floresta. O
choro das nuvens que deveriam promover a vida dessa vez anunciou a morte. Os
grandes animais bateram em retirada fugindo do afogamento, deixando até os
filhos para trás. Devastavam tudo o que estava à frente. Os animais menores
seguiam seus rastros. De repente uma pequena andorinha, toda ensopada,
apareceu na contramão procurando a quem salvar.


”As hienas viram a atitude da andorinha e ficaram
admiradíssimas. Disseram: ’Você é louca! O que poderá fazer com um corpo tão
frágil?’. Os abutres bradaram: ’Utópica! Veja se enxerga a sua pequenez!’. Por
onde a frágil andorinha passava, era ridicularizada. Mas, atenta, procurava
alguém que pudesse resgatar. Suas asas batiam fatigadas, quando viu um filhote
de beija-flor debatendo-se na água, quase se entregando. Apesar de nunca ter
aprendido a mergulhar, ela se atirou na água e com muito esforço pegou o diminuto pássaro pela asa esquerda. E bateu em retirada, carregando o filhote no bico.

”Ao retornar, encontrou outras hienas, que não tardaram a
declarar:

’Maluca! Está querendo ser heroína!’. Mas não parou; muito fatigada,
só descansou após deixar o pequeno beija-flor em local seguro. Horas depois,
encontrou as hienas embaixo de uma sombra. Fitando-as nos olhos, deu a sua
resposta: ’Só me sinto digna das minhas asas se eu as utilizar para fazer os outros
voarem’.”



No momento seguinte, após uma inspiração profunda e
penetrante, o vendedor de sonhos disse a mim e a meus amigos:
— Há muitas hienas e abutres na sociedade. Não esperem muito
dos grandes animais. Esperem deles, sim, incompreensões, rejeições, calúnias e
necessidade doentia de poder. Não os chamo para serem grandes heróis, para
terem seus feitos descritos nos anais da história, mas para serem pequenas
andorinhas que sobrevoam anonimamente a sociedade amando desconhecidos e
fazendo por eles o que está ao seu alcance. Sejam dignos das suas asas. É na
insignificância que se conquistam os grandes significados, é na pequenez que se
realizam os grandes atos.


(O Vendedor de Sonhos)

"Eu também sou vítima de sonhos adiados, mas, apesar disso, eu ainda tenho um sonho, porque a gente não pode desistir da vida." (Martin Luther King)

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